O projeto de reformulação desta moradia partiu da vontade de requalificar os espaços interiores, reinterpretando a sua organização e atmosfera sem recorrer a transformações estruturais profundas. Procurou-se modernizar o conjunto através de uma intervenção contida, que valoriza o existente e introduz novas camadas de conforto, coerência e contemporaneidade.

A proposta baseia-se numa leitura atenta da pré-existência, preservando a identidade original da casa e potenciando a sua estrutura espacial. As alterações introduzidas nas compartimentações foram mínimas, mas decisivas, permitindo uma vivência mais fluida e adaptada ao quotidiano.

A cozinha foi totalmente reformulada, assumindo um papel mais aberto e funcional na organização do piso térreo. Embora se tenha promovido uma maior continuidade visual e de percurso, manteve-se a sua autonomia em relação às zonas sociais, preservando a distinção entre diferentes atmosferas dos espaços.

As instalações sanitárias foram integralmente renovadas, assegurando maior conforto e adequação às exigências contemporâneas, tanto do ponto de vista técnico como estético.

O projeto integrou também a curadoria e seleção de mobiliário, num exercício de harmonização entre peças existentes e novos elementos que reforçam a coerência espacial e contribuem para a criação de ambientes mais acolhedores e equilibrados.

Sempre que possível, foi privilegiada a recuperação de materiais originais — como pavimentos em madeira maciça, portas e armários — numa lógica de respeito pela memória do lugar e de valorização do tempo inscrito na casa.

A intervenção afirma-se, assim, como um exercício de equilíbrio entre continuidade e transformação: um gesto contido, mas intencional, que concilia a identidade arquitetónica da moradia com as necessidades e modos de habitar contemporâneos.